AS ENTRAVES DO ORGASMO FEMININO
Publicado por: Catherine de Almeida Plata em 22/3/2012
Categoria: Psicologia
 
A era moderna já existe. Instalaram-se recursos tecnológicos de todas as modalidades em nossas vidas, e os conceitos e a tolerância indo de encontro nas ideologias novas. Ótimo. O curioso nisso tudo é quando ao nos lembrarmos dessa realidade formidável da quebra de barreiras, ainda nos deparamos com matérias de revistas femininas citando o orgasmo como tema. Como tema, e como desafio, algo ainda a ser muito explorado e entendido por nós, a fêmeas humanas. A virgindade já ficou para trás, o sexo casual já faz parte do cardápio feminino, mas o Orgasmo, acobertado por mentiras e lendas, este permanece ainda um mistério. Pensando em relação ao esclarecimento do mundo de hoje, isso é quase inacreditável.

De acordo com a Psicologia Junguiana, o que se chama de inconsciente coletivo são conteúdos que podem ser atingidos por toda uma corrente coletiva, de heranças e transições da espécie humana, estando, pois, para além da experiência pessoal. Podemos, inclusive, traçar um paralelo: tal qual é para o biológico, que respeita uma herança do seu funcionamento, assim também é o nosso psiquismo coletivo, herdeiro de uma memória global, ou seja, conteúdos que nunca estiveram na consciência e, portanto, não foram adquiridos individualmente, mas sim, devem sua existência ao processo de hereditariedade dos tempos.

O que isso tem a ver com o prazer sexual da mulher?
Se o nosso inconsciente coletivo compreende fenômenos que não ocorrem diretamente a um sujeito, mas sim em gerações do coletivo, podemos emprestar esse olhar junguiano ao que diz respeito a nossa formação social, e isso nos fará chegar aos lençóis e na intimidade da dama da sociedade. Nossa História é pautada num modelo patriarcal, e este se encorpou de forma tão intrínseca que quase não nos sobra criatividade para entender um funcionamento social diferente. O machismo está por toda parte, escamoteado por de trás de algumas revoluções que duramente o público feminino conseguiu promover. Mas o pior dos machismos não está nas leis e nos direitos, pois estes já melhoraram bastante. O machismo sólido reside em nossas psiques, em nosso comportamento, em nossas dúvidas e expectativas. O nosso formato de mulher ainda é este, e nosso próprio julgamento moral nos concerne este papel. É aí que entra o orgasmo feminino. Aparentemente não há uma ligação direta, e pode parecer discurso feminista levantando uma questão social. Mas este passeio pela história do machismo é apenas para nos remontar uma realidade que faz parte do nosso passado, e portanto que preenche nossos conteúdos coletivos.

Há muitos anos a mulher foi divida em dois caminhos: o da esposa e o da promíscua. Desde então o sonho romântico feminino foi casar e ter filhos. Felizmente aberturas novas se deram de uns tempos para cá e as mulheres de hoje em dia mantém suas idealizações pautadas em mais do que isso. Contudo, o conceito de respeito à mulher ainda reside bem próximo a moralidade sexual. O passado patriarcal comprova que por muitos e muitos anos a função social da fêmea era oferecer herdeiros legítimos ao seu marido, e promover assim a manutenção e repasse do patrimônio daquele clã familiar. Se o sexo para a mulher por muito tempo fora por fins reprodutivos, e muitas das vezes, com parceiros não escolhidos, e sim decididos, o prazer em seu fim fora descartado, quando mais se considerarmos que a satisfação sexual estava vinculada às prostitutas da rua, que representam esta sombra do feminino, enquanto à dama se reservava o lugar intocável muito bem representado pela “Virgem Maria”.

Se mente e corpo se interligam, a liberdade sexual da mulher ainda é algo a se elaborar, e são os corpos femininos que denunciam isso. São pesquisas e mais pesquisas oferecendo dados que nos deixam boquiabertos com tamanho número de mulheres que nunca sentiram prazer, ou que não sabem dizer se tiveram. São números e números comprovando como a mulher desconhece o seu sexo, e alarmantemente temos uma população mundial que não para de crescer. Os fins reprodutivos permanecem, o prazer sexual continua uma dúvida.

Se até hoje temos mulheres que precisam mentir seus orgasmos, e porque antes tivemos uma sociedade que precisou fingir não ter mulheres por de trás da figura da dama, da esposa. São arquétipos de uma mulher sóbria e sem desejos de luxúria, de uma castidade indicativa para se confiar os laços matrimoniais.

Se tratando de inconsciente, e ainda mais, de uma generalização coletiva, o não reconhecimento de sua sexualidade ainda confere à mulher um elo ao seu remoto passado de fêmeas castas e próprias ao casamento. E não que isso ainda seja desejo da mulher, pois sim, vivemos num mundo moderno e o sexo está em nossos dias abertamente. Mas uma censura demarcada por tantos séculos, corroborada por discursos religiosos, por leis e posições sociopolíticas, poderia ser apagada tão facilmente?

O movimento parece ser de trás para frente. Não se trata da mulher de hoje ainda optar por este papel e não conhecer seu sexo. Mas a sua autoliberação ainda é parcial e não inteira. A liberdade da mulher vai, de um modo geral, até o momento de tirar a roupa e deitar na cama. A liberdade da mulher está esteticamente nos decotes, na ousadia das suas falas, na troca de parceiros, na cerveja e no futebol, como homens. Mas a liberdade da mulher ainda não quebrou algumas entraves internas dela, que mesmo tão moderna e tão liberta, ainda se vê presa a uma necessidade difícil de aprender a gozar.


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