Álcool e drogas: por que os jovens estão bebendo e usando substâncias ilícitas tão cedo?
Publicado por: Marcia Merquior em 18/6/2012
Categoria: Psicologia
Conteúdo Saúde: Por que os jovens estão entrando em contato cada vez mais cedo com essas substâncias?
Marcia Merquior: Em primeiro lugar, é fundamental refletirmos um pouco sobre a sociedade contemporânea, baseada essencialmente em valores consumistas, imediatistas e narcisistas. Além disso, ou por isso, não é possível dizer o que leva ao que. Os valores sociais de comunidade, de solidariedade, de um projeto social mais justo, com menos desigualdade social, em que o exercício da violência é espantosamente banalizado e espetacularizado por todas as mídias. Essas são variáveis que se entrelaçam e se potencializam, abrindo caminhos cada vez mais fáceis para atitudes transgressivas, pretensamente rebeldes e libertárias. O caminho das drogas lícitas e ilícitas está cada vez mais tangível, concreto, possível. O importante é ser alegre, rico, sedutor, “pegador”, “sarado”, bonito, “potente”. Sim. Cada vez mais “potente”. Para isso dá-lhe vodka, cerveja, redbull, Viagra, êxtase, crack, etc.
Conteúdo Saúde: Como essas drogas podem mexer com o intelecto do adolescente?
Marcia Merquior:Qualquer droga tem seus efeitos neurológicos, que perturbam a organização das redes neurais e criam dependência química de seus agentes. Algumas mais lentamente, outras mais imediatamente. E, como vimos, temos a dependência psicológica que é a de ter que dar conta do personagem criado para responder às expectativas. Sem dúvida, há prejuízos nos estudos, na memorização, na concentração, nos planos de futuro, na capacidade de trabalho e/ou produção.
Conteúdo Saúde: Jovens que têm antecedentes familiares de viciados podem ter uma tendência para o vício?
Marcia Merquior: Os antecedentes familiares são referências de vida. É a partir das vivências, das ações e reações que fazem parte da história da pessoa, das suas relações com seus pais, avós, dos seus afetos, amparos ou abandonos, exemplos, sucessos e fracassos que o jovem se coloca na vida. Isso não quer dizer que eles necessariamente irão repetir as mesmas histórias. Mas, suas vivências são marcas. São possibilidades, medos, ameaças, forças, defesas, compromissos. E não podemos esquecer também que há uma herança genética para alguns quadros mais comprometidos como compulsividade, impulsividade, agressividade, baixa tolerância química ao álcool e outras drogas e todo o espectro hoje conhecido de bipolaridade.
Conteúdo Saúde: Quais são os tratamentos adequados para essa faixa etária?
Marcia Merquior: Se acreditarmos numa visão mais sistêmica e interrelacionada, não podemos mais vislumbrar tratamentos apenas individuais. A família do drogadito, do viciado, do adicto deve ser envolvida no tratamento para que ambos se responsabilizem pelos abusos ocorridos e pelos limites que a partir de agora devem ser colocados. É preciso compreender os casos mais graves não apenas como rebeldias adolescentes, mas como doenças que precisam de atenção e cuidados. Portanto, o tratamento é psiquiátrico, psicológico e relacional (familiar e social).
 
Conteúdo Saúde: Por que o adolescente é mais vulnerável para fazer o uso dessas substâncias?
Marcia Merquior: A adolescência é, em sua essência, um momento transgressivo. Os jovens precisam se libertar dos padrões parentais para se fazerem a si mesmos, para se reconhecerem e serem reconhecidos como adultos, com direito a se expressar, discordar e se vestir como desejarem, podendo assim, desse seu modo peculiar, fazer parte do mundo social. Desta postura essencialmente transgressiva, o adolescente lança mão das mais variadas estratégias e recursos. Ele está visceralmente envolvido nesse projeto. E para isso, vai em busca de seus pares, de outros jovens como eles que são os únicos capazes de compartilhar suas sensações, dúvidas e inseguranças. O grupo adolescente acolhe o desespero adolescente. E assim, nessa busca, o adolescente está aberto a se engajar nos projetos mais transgressivos e marginais. Eles estão ávidos por novas sensações, novas experiências, para fazer parte de um grupo. E muitas vezes, esses grupos fazem suas regras de adoção, seus rituais de passagem: que podem ir desde piercing até o roubo ou estupro, passando por experimentar drogas. Infringir as regras faz parte do processo de reconhecimento do grupo, afastando-se dos adultos e encontrando novas fidelidades.
Por isso, eles são o alvo maior dos traficantes. Estão mais abertos por experiências e, se viciam passando a ser os clientes certos de amanhã. Assim, os “aviões” estão onde o jovem está: bares, baladas, micaretas, praias, clubes, colégios, faculdades, etc. E é um mercado inesgotável, sempre renovado.
Por fim, é bom lembrar que se drogar não é um destino inexorável de todo e qualquer adolescente. Mas é preciso ter outros interesses, ter projetos. precisar lutar por si mesmo e por sua própria vida; é preciso ter acolhimento, conversa. E conversar não é dar bronca ou fazer um monólogo pretensamente normatizador. Trata-se de outro tipo de conversa. Uma conversa onde diferenças possam ser expressas, onde fraquezas e medos possam não ser criticados e que haja respeito por suas bobagens, suas ingenuidades, suas arrogâncias. Faz-se muito importante refletir e não impor. Apontar caminhos mais produtivos, transformadores, inventivos, onde seus talentos e virtudes podem ser expressos. Mostrar aos jovens que eles agora devem escolher e serem responsáveis por suas escolhas, para que encontrem outros reconhecimentos e que possam se sentir produtivos, singulares, capazes de contribuições importantes. E essa é uma tarefa urgente que passa pela reforma educacional do país. Uma reforma que deve ser realizada com um projeto de inclusão social, através da promoção de conhecimento, de forma interativa e que faça parte de um novo projeto de país.

MARCIA MERQUIOR É PSICÓLOGA E COLUNISTA CONVIDADA.
(CRP/05-13829)




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