A Depressão e a Contemporaneidade
Publicado por: Karina Fatá Dahan em 11/12/2010
Categoria: Psicologia
“É preciso escutar cada um como um sujeito na sua relação com o mundo e com si próprio.”
Karina Fatá: Atualmente, diante da velocidade dos acontecimentos, não nos damos conta do tempo, da velocidade da vida. Estamos inseridos em uma contemporaneidade que nos traça um estilo de vida que impossibilita a criação de outros mundos possíveis. O mundo de hoje supõe automatismo, repetição, identidade, aceleração, consumo e consequentemente a inibição da singularidade.
Em um mundo capitalista onde o empenho da indústria farmacêutica, em lançar no mercado vários antidepressivos, os diagnósticos de depressão crescem assustadoramente, mantendo assim uma indústria do bem-estar e da “felicidade”. –“Sejamos felizes!”

Em contra partida, tenho constatado em minha prática clínica que aquilo que chamamos por depressão é um quadro que participa das estruturas neuróticas. As pessoas precisam entender que mesmo diante de um quadro que, com possíveis coincidências com outros sintomas, apesar de tudo, tem sua singularidade. Não podemos confundir a depressão com tristeza, desânimo, fracassos, falta de apetite diante da vida; embora todos estes sintomas apareçam no sofrimento de um sujeito com depressão. Porém, um sinal dele não significa que o sujeito está com depressão. É preciso escutar cada um como um sujeito na sua relação com o mundo e com si próprio.

Na clínica, recebo pessoas que se dizem deprimidas desde a infância, e venho percebendo que quando acolhemos tal paciente necessitamos de muita delicadeza e cautela ao receber com o diagnóstico de depressão. Geralmente eles chegam com uma queixa de vazio profundo, lentidão, tristeza, perda de auto-estima e incompreensão. Como se estivessem em um tempo vazio, sem sentido, num mundo onde só o que é imediato, feliz e com velocidade interessa. Em um mundo onde não há espaço para refletir, se escutar. Não há espaço para a lentidão, muito menos para a tristeza. Onde o que é imprescindível é - “Sejamos Felizes!”.
Portanto, onde se enquadrar? Onde se inserir no mundo de hoje? Já que hoje a felicidade é obrigatória e a competitividade, a conquista e o sucesso predominam. Não há espaço para tais tristezas, tédio nem lágrimas, muito menos uma escuta paciente para tais sofrimentos.
Simples demonstrações de dor, de tristezas são intoleráveis na nossa atual sociedade, onde a felicidade virou valor agregado a pequenos bens de consumos adquiridos.
Assim, ao buscar o psicanalista, o sujeito busca uma possibilidade de encontro com este tempo singular, com esta velocidade que foi perdida. Buscará aos poucos, seu tempo, o seu próprio ritmo, a sua tonalidade e começa a recuperar o seu sentido. O que eles querem é um espaço onde voltem a se escutar ou a pensar num outro ritmo, não este acelerado em que vivemos. Muitos procuram um apoio profissional, pois não se adaptaram ao medicamento, ou porque fizeram uso prolongado do antidepressivo e não surtiu o efeito esperado, ou porque depois do uso prolongado já não faz mais efeito.
Entre os adolescentes a questão ainda é mais grave. Os efeitos são perigosos, pois diante de uma perda de auto-estima, sentimentos de incompreensão, tristeza, eles se excluem ainda mais, gerando o isolamento.
É preciso convidar o paciente a ter coragem para apostar em si, acreditar na construção de um sentido para a sua história, onde ele não estará sozinho. Cabe ao psicanalista se colocar em uma posição onde não só escute o paciente, mas ajude-o a se deparar com esta dor, por vezes insuportável e que o acolha na sua singularidade e no seu tempo.



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