O cuidar do idoso em casa ou no asilo
Categoria: P. Neurolinguistica
O processo de envelhecimento anuncia uma mudança da percepção que o idoso tem de si mesmo. Essa fase, visível e inevitável, identificada pelo sistema biológico, conseqüência natural do processo de vida, traz consigo muitas perdas motoras e sensoriais, assim como perda da autonomia em diversas atividades diárias, antes realizadas com facilidade. Somando-se isso ao abandono pela família, o processo fica ainda mais difícil, influenciado pelos fatores psicológicos, podendo levar à falta de afetividade, à depressão e ansiedade e à baixa auto-estima. Por mais que as instituições asilares sigam as normas exigidas no Estatuto do Idoso, estes passam por profundas mudanças, até adaptarem-se à nova realidade.

A pessoa idosa está propensa a experimentar a dor e o sofrimento, seja por uma doença, pela perda de pessoas queridas, pelo afastamento do trabalho e por outras perdas que vai tendo que suportar. Estudos mostrados na Campanha da Fraternidade de 2003, apontam que a grande massa de idosos vive solitária, em casa, em asilos ou casas geriátricas. Vivem isolados enquanto os outros realizam outras tarefas, como estudar, trabalhar. Debilitados e deprimidos, muitos acabam por não verem o sentido de viver.

Viktor Frankl, psiquiatra em Viena, sobrevivente de um campo de concentração, fundador da Logoterapia, fala que cada pessoa é questionada pela vida e somente pode responder à vida, sendo responsável por sua própria vida. Na verdade, todos os seres vivos buscam a preservação da própria vida. Já os seres humanos, não se contentam em apenas garanti-la, precisam dar-lhe um sentido. Como afirma o texto da Campanha da Fraternidade : “[...] em todos os tempos, os seres humanos procuraram o sentido último da própria existência, do mistério da vida, da dor e da morte.”

Ao redor do mundo, os asilos nasceram para abrigar idosos pobres e sem família. Anteriormente, os velhos eram abrigados em asilos de mendicidade, juntamente com outros pobres, desempregados e doentes mentais. O Departamento de Geriatria D. Pedro II, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro é um bom exemplo dessa trajetória.
Em nossa cultura, a velhice é vista de forma negativa, sendo alvo de mitos, preconceitos e discriminação, sendo associada à morte. Assim, tendo como representação social que envelhecer é deixar de produzir, os velhos vão sendo marginalizados numa sociedade onde a produção, a competitividade, o trabalho e o consumo são os maiores valores.
Para as famílias de melhor nível econômico, as clínicas geriátricas surgem como alternativa cada vez mais freqüente, para que “o pai ou a mãe convivam com pessoas da idade deles”. Para o idoso pobre, resta o asilo, frequentemente mantido e dirigido por pessoas sem o menor preparo, deficientes na organização e no tratamento dispensado ao velho internado.

Oportuno aqui salientar, que a desigualdade econômica presente na sociedade brasileira, reproduz-se no tratamento ao idoso rico e ao idoso pobre. Enquanto o abandono do idoso melhor provido de recursos, parece restringir-se mais a aspectos afetivos e emocionais, a situação do idoso pobre é dramática. Uma vez “que não têm [e nunca tiveram] um significado relevante para o sistema sócio-econômico vigente, vivem uma história oculta e silenciosa. Além do abandono afetivo e emocional, são submetidos a todo tipo de carência, desde recursos mínimos para uma alimentação adequada, até atividades que lhes proporcionem um mínimo de lazer, passando pelo precário sistema de saúde.”
Entretanto, é importante salientar o papel do Ministério Público que tem a missão constitucional de garantir os direitos da pessoa idosa e já possui em vários estados, a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Idoso e Portadores de Deficiência. A par da atuação das Promotorias de Justiça, merece destaque a função das Defensorias Públicas, na garantia do acesso à Justiça por parte do idoso carente.

Para concretizar uma Política Nacional do Idoso, é necessário que a sociedade se dê as mãos e aprenda quem é o idoso e como lidar com ele. Muitas universidades brasileiras já desenvolvem programas para a terceira idade, nova idade e idosos, contribuindo com suas pesquisas para uma melhor compreensão e elucidação dos aspectos biopsicossociais e culturais envolvidos nesta faixa etária. O objetivo é favorecer condições para que continuem ativos, estimulados pelo conhecimento, articulados socialmente e descobrindo talentos, habilidades e capacidades.
O idoso carrega em si a possibilidade de evocar, de memorizar e de trabalhar com as imagens-lembranças. T. S. Eliot dizia que “o tempo passado e o tempo presente estão ambos no tempo futuro”, focando nas três dimensões temporais. Ao interrogar seu passado, o indivíduo ressignifica sua vida, desde que haja ouvidos para escutarem suas experiências, ocasionando o fenômeno da “ressonância” emocional e afetiva. Hegel já dizia que “é o passado concentrado no presente que cria a natureza humana por um processo de rejuvenescimento.”

Desde os mais longínquos tempos, a representação social da velhice recebe significados, resultantes da interação entre o senso comum e o conhecimento erudito (científico), numa relação mútua entre estes dois universos, circulando através de meios de comunicação formais e informais, assimilados e reelaborados socialmente.
É preciso lançar outro olhar sobre o envelhecimento, tendo como desafio criar novas estruturas, nas quais os idosos possam desenvolver-se de maneira o mais saudável possível, favorecendo sua qualidade de vida e os auxiliando no exercício do seu papel de cidadãos e atores sociais, fazendo um contraponto nesta sociedade contemporânea, que privilegia a juventude, a beleza e a força de trabalho produtivo.

Com uma maior focalização em torno da longevidade e da saúde física, a instituição asilar deve providenciar uma adequação do ambiente às peculiaridades da velhice, além de proporcionar atividades multidisciplinares para envolver os idosos, que experimentariam a realidade de serem desafiados a colaborar, gerando, naturalmente, uma auto-imagem satisfatória ao reconhecerem-se por sua capacidade de serem ativos. Alguns autores afirmam que “ao idoso compete a responsabilidade, de tentar viver da melhor forma possível essa etapa, que embora seja a última, mantém ainda acesa a centelha da vida. A responsabilidade da família e da sociedade é visualizar essas possibilidades e oportunizar a abertura de espaços adequados para os idosos.”

Para que a velhice não seja vazia e monótona, é necessário não se acomodar. Os primeiros pensadores que se preocuparam com a questão da velhice remontam à Grécia Antiga. O médico grego Hipócrates, que acreditava que a velhice começava aos 56 anos fez várias observações, retomadas por Simone de Beauvoir : “Em todos os domínios, ele aconselha moderação, mas também sugere que não interrompam suas atividades.”

As instituições de amparo à velhice, normalmente, se organizam em função de um velho que precisa de alimentação, higiene, abrigo, cuidados médicos e distração para passar o tempo. Os “clientes” passam a ser meros consumidores de serviços básicos, prestados pela instituição. Onde ficam as outras características da condição humana ? Pessoas não se satisfazem somente porque comem, dormem em lugar seguro e têm tudo limpo à sua volta. Precisamos nos conscientizar de que estes locais, não são só ambientes de apoio e segurança, mas, também, campos de conflito e de tensão emocional.

O homem é uma totalidade complexa e dinâmica, no que consiste a sua individualidade. Através de uma abordagem holística, será possível que se entenda a fenomenologia psicológica do gerente estruturalmente ligada à sua parte somática, estando ambas mergulhadas no próprio existir.



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